Em 30 de agosto, Clarissa Lins, sócia fundadora da Catavento, participou de Live do Valor Econômico sobre os desafios para redução das emissões de carbono nos processos produtivos. O debate foi moderado por Vinicius Dônola, e contou com a participação de Malu Paiva – Vice Presidente Executiva de Sustentabilidade da Vale -, Izabella Teixeira – ex-Ministra de Meio Ambiente e Conselheira do CEBRI -, Cristiana Brito – Diretora de Relações Institucionais e Sustentabilidade da BASF -. Abaixo ressaltamos alguns destaques da participação de Clarissa Lins.
A agenda ESG e de sustentabilidade tem estado cada vez mais presente no dia a dia da liderança das empresas, com novos tipos de riscos e oportunidades de negócio. A sustentabilidade deve funcionar como uma lente adicional para repensar a estratégia corporativa, na medida em que amplia a visão da liderança para além de aspectos econômico-financeiros, e traz à tona conceitos como a urgência climática, a necessidade de promover a diversidade e a inclusão, o combate à desigualdade social e a governança robusta.
Empresas e setor financeiro possuem papel chave a cumprir para apoiar a sociedade no combate a desafios prementes. Apesar dos atuais problemas serem altamente complexos, empresas são elencadas em pesquisa da Edelman [1] como a instituição em que as pessoas mais confiam (por 61% dos entrevistados), à frente de governos e ONGs, por exemplo. Ao mesmo tempo, as empresas são cada vez mais incentivadas a agir pelo setor financeiro, que já possui US$ 35 trilhões de ativos ESG sob gestão [2], além de impulsionar a emissão de instrumentos sustentáveis de dívida. Estes mais do que dobraram entre 2018 e 2020, tendo atingido US$ 470 bilhões até abril de 2021 [3].
No tocante à descarbonização, enquanto governos de países desenvolvidos podem alocar recursos para impulsionar a transição, o Brasil possui peculiaridades. Na China, investimentos vultosos na última década, notadamente por parte de empresas estatais, permitiram a redução de custos na cadeia de energia solar fotovoltaica na ordem de 85% desde 2010 [4]. Já nos EUA, o Governo Biden anunciou o projeto “EarthShots”, que visa incentivar programas de P&D e parcerias público-privadas de modo a reduzir o custo do hidrogênio de baixo carbono em 80% em 10 anos, chegando a US$ 1/ton, e a reduzir o custo do armazenamento de eletricidade de grande porte em 90% até 2030 [5]. No Brasil, por outro lado, diante da grave situação fiscal, espera-se que o governo não invista diretamente recursos do Tesouro, mas sim promova regras claras – incluindo eventualmente mercados de carbono – que garantam um mercado aberto, competitivo e estável para atrair recursos privados que impulsionem a transição.
Por fim, é importante não “vilanizar” os setores carbono intensivos e tampouco o setor de O&G, e sim chamá-los ao diálogo e a prover soluções. A energia advinda do petróleo, gás natural e carvão são atualmente responsáveis por cerca de 80% da demanda por energia global [6]. Tais fontes fósseis foram e continuam sendo essenciais para a garantia do bem estar da sociedade. Mas é inegável que a transição energética para fontes menos emissoras deve se acelerar, visto que a forma como produzimos e notadamente consumimos energia é responsável por mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa globais [7]. Nesse cenário, o setor de O&G possui competências e expertise que serão de grande valia caso aproveitadas em meio à transição para uma economia de baixo carbono, tais como: planejamento de longo prazo, gestão de complexidades, capacidade de interlocução com governos e gerenciamento de cadeia de fornecedores. A exclusão de um setor que foi e ainda é essencial para nosso bem-estar não parece ser uma solução justa, principalmente tendo em vista as diferentes realidades locais e a oportunidade de recapacitar a mão de obra para um futuro descarbonizado.
O debate pode ser assistido na íntegra aqui.
[1] Edelman. Trust Barometer. 2021
[2] Global Sustainable Investment Alliance. Global Sustainable Investment Review 2020. 2021
[3] Morning Star. Sustainability-Linked Debt Instruments and Their Potential Credit Impact Through Cost of Capital. 2021
[4] IRENA. IRENA Renewable Power Generation Costs. 2021
[5] https://www.energy.gov/articles/secretary-granholm-launches-hydrogen-energy-earthshot-accelerate-breakthroughs-toward-net
[6] IEA. World Energy Outlook. 2020
[7] IEA. CO2 emissions from fossil fuel combustion. 2020
Foto: Diego Jimenez via unsplash
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