No dia 05 de outubro, Clarissa Lins, sócia fundadora da Catavento, participou de painel do Shell Talks, intitulado “Soluções baseadas na natureza e os mercados de carbono”. O debate foi moderado por Pedro Dória, colunista do GLOBO, e contou com a participação de Alejandro Segura, gerente-geral de Soluções Baseadas na Natureza da Shell para a América Latina, e de Eduardo Bastos, diretor de sustentabilidade da Bayer para a América Latina. Abaixo ressaltamos alguns destaques da participação de Clarissa Lins.
As soluções baseadas na natureza (NBSs) se mostram como uma estratégia econômica para a remoção de carbono da atmosfera, cujo desenvolvimento é essencial para os setores de difícil descarbonização. Enquanto o custo para projetos de NBSs para captura de carbono (ex. reflorestamento) fica em torno de US$ 8/tCO2e [1], soluções tecnológicas de captura de carbono se mostram consideravelmente mais caras, como CCUS (até US$ 125/tCO2e) e DAC (preços acima de US$ 300/tCO2e)[2].
O Brasil pode se beneficiar das NBSs por diversos motivos que vão além de seu papel no combate às mudanças climáticas, como melhoria da qualidade do ar, aumento de disponibilidade hídrica, proteção da biodiversidade, além da geração de uma bioeconomia baseada em produtos não-madeireiros e compatíveis com a floresta, os quais estudos indicam que poderiam gerar uma receita de até US$ 2,3 bi (vs. atuais US$298 mi) no país [3].
O Brasil representa aproximadamente 20%[4] do potencial global para o desenvolvimento de projetos baseados em NBSs, principalmente por sua vocação natural de florestas e enorme extensão territorial. Umas das maneiras de se alavancar o financiamento para estes projetos é via mercados de carbono.
Espera-se um aumento considerável na demanda por créditos de carbono com o aumento de compromissos net zero, adotados por mais de 1500 empresas[5] e por países que representam 70% do PIB e das emissões de CO2 globais[6]. A Taskforce on Scaling Voluntary Carbon Markets (TSVCM) estima que a demanda anual por créditos deverá crescer aproximadamente 15 vezes até 2030, chegando a 2 GtCO2, e em cerca de 100 vezes até 2050, ficando entre 7 GtCO2 e 13 GtCO2 [7]. Em relação à situação atual do mercado voluntário, dados da Ecosystem Marketplace[8] indicam que o mercado voluntário alcançou US$ 748 mi em valor transacionado em 2021. Este valor representa um aumento de 58% em relação a 2020 (US$ 473 mi). Especialistas apontam que o valor do mercado deva chegar a US$ 1 bi até o fim do ano. Em termos de volumes transacionados, o ano de 2021 já apresenta 27% de crescimento em comparação com 2020, alcançando em torno de 240 MtCO2e.
Por fim, Clarissa abordou que para aproveitar as oportunidades crescentes e se colocar bem no mercado global de créditos de carbono, O Brasil deve, entre outros fatores, eliminar o desmatamento ilegal em seu território, avançar no cumprimento de sua meta da NDC de reflorestar 12 milhões de hectares até 2030[9] e, assim, se reposicionar em relação à integridade dos créditos de carbono brasileiros frente aos possíveis compradores mais exigentes.
Referências:
[1] ECOSYSTEM MARKETPLACE. State of Voluntary Carbon Markets 2021. 2021
[2] IEA. Is Carbon capture too expensive?. 2021
[3] AMAZÔNIA 2030. Como impulsionar o desenvolvimento econômica da Amazônia?. 2021
[4] RONALDO SEROA DA MOTTA. Oportunidades e Barreiras no Financiamento de Soluções Baseadas na Natureza. 2020
[5] DATA DRIVEN ENVIRONLAB AND NEW CLIMATE INSTITUTE. Accelerating Net Zero. 2020
[6] IEA. Net Zero by 2050 – A roadmap for the global energy sector. 2021
[7] TSVCM. Final Report.2021
[8] ECOSYSTEM MARKETPLACE. State of Voluntary Carbon Markets 2021. 2021
[9] MMA. REDD+ e a NDC do Brasil. 2016
Foto: Valor Econômico
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