Empresas estão diante de amplas oportunidades de reposicionamento, apesar de dilemas
O que está por trás da diversificação de portfólio observada por parte de algumas empresas do setor de óleo e gás (O&G)? De que forma as companhias se posicionam e quais são os principais dilemas enfrentados?
Entre as principais diretrizes que norteiam a diversificação estão as incertezas quanto à demanda futura por O&G, diante de maiores restrições climáticas e transição para uma economia de baixo carbono [1], além de a maior pressão de investidores. Em relação a este último ponto, destaca-se que o número de resoluções de acionistas relacionadas a clima para empresas de O&G aumentou 63% no período de 2015-2019, em comparação com os quatro anos anteriores [2]. Em tais resoluções, investidores demandam transparência sobre riscos climáticos, resiliência do portfólio ao cenário de 2°C e metas alinhadas ao Acordo de Paris. Ainda, é possível notar uma mudança na percepção de risco sobre o setor de O&G, observada por meio do aumento no custo de capital e das taxas de retorno requeridas para aprovação de projetos [3].
Neste contexto, empresas de O&G buscam se adaptar e responder às crescentes pressões de diferentes formas. A estratégia adotada varia de acordo com alguns fatores determinantes, tais como (i) região geográfica de atuação e tipo de interação com governos locais; (ii) grau de exposição a investidores e consumidores finais; (iii) percepção de riscos de transição ou de mercado e (iv) tipo de expertise desenvolvida e consolidada. Nesse sentido, a maioria das empresas busca reduzir suas emissões e promover eficiência nas operações, enquanto a efetiva diversificação de portfólio para novas formas de energia de forma mais contundente tende a ficar concentrada em players europeus. Há ainda empresas que buscam integrar novas renováveis às operações existentes, buscando tanto a redução de emissões como eventualmente redução de custos, como no caso das IOCs norte-americanas que estão entre os maiores compradores corporativos de energia renovável. Há, por fim, aquelas empresas que escolhem permanecer com foco em O&G, alavancando-se em competitividade de custos e eficiência em carbono.
A decisão estratégica, ao fim, deve levar em conta o aumento esperado por demanda de energia, notadamente em países asiáticos, fator-chave para suportar o crescimento econômico e o desenvolvimento social esperados. Deve-se levar em conta, todavia, que o perfil dessa demanda energética está em constante evolução, com tendência atual de priorizar fontes de baixo carbono.
Assim, devem as empresas de O&G posicionar-se como empresas de energia, com ampla gama de fontes no portfólio, apropriando-se de negócios com maior CAGR esperado (renováveis)? Ou devem priorizar a janela de oportunidade existente no O&G, focando no negócio com expertise consolidada e aceitando taxas de crescimento decrescentes?
Tal escolha, não trivial, ainda enfrenta o desafio da definição do momento mais adequado para a diversificação. Caso migrem para novas energias “antes da hora”, empresas de O&G terão que lidar com a necessidade de desenvolvimento de novas habilidades e competências, além do relevante desafio de manutenção dos níveis de retorno aos acionistas [4]. Se demorarem a responder, por outro lado, podem sofrer para atrair e reter talentos, além de estarem sujeitos a riscos de aumento do custo de capital e pressão crescente de investidores ESG.
Em um momento desafiador e inspirador de mudanças no setor energético, faz-se mister refletir sobre o futuro do setor de O&G em meio à transição para uma economia de baixo carbono.
[1] IEA. The Oil and Gas Industry in Energy Transitions”, 2020
[2] CMS Law, Capital Economics. “Oil & Gas Energy Transition – Evolution or Revolution – the role of O&G companies”, 2020
[3] Oxford Institute for Energy Studies. “Energy Transition, Uncertainty, and the Implications of Change in the Risk Preferences of Fossil Fuels Investors”, 2019
[4] Wood Mackenzie. “How serious are oil and gas companies about the energy transition?”, 2019
Foto: Nicholas Doherty – unsplash
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