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Clarissa Lins, sócia fundadora da Catavento, foi convidada a participar do painel de abertura do Congresso de SMS e Clima 2021 da Petrobras, realizado em novembro de 2021, como keynote speaker, ao lado de Bjorn Otto Sverdrup, Senior Vice President for Sustainability da Equinor e Chair do Executive Committee da Oil & Gas Climate Initiative (OGCI). A sessão foi moderada por Viviana Coelho, Gerente Executiva de Mudança Climática da Petrobras, tendo se debruçado sobre a transição energética e os desafios de clima e ESG para o setor de óleo e gás.
Clarissa iniciou sua apresentação reconhecendo os crescentes compromissos assumidos durante a COP26 e seus potenciais impactos sobre o setor de O&G, com destaque para o compromisso global de redução das emissões de metano, anúncio de instituições financeiras com US$ 130 tri sob gestão buscando se alinhar a um cenário de net zero em 2050 e países se comprometendo a não mais promover o financiamento público para atividades internacionais em combustíveis fósseis.
Em seguida, Clarissa apresentou dados que demonstram o reconhecimento da crise climática por parte de quase 2/3 da população global [1], que se reverte em um aumento expressivo no número de compromissos de neutralidade de emissões por parte de empresas e países, já cobrindo mais de 70% das emissões de CO2 globais e 80% do PIB [2].
Apesar da urgência e da necessidade de mudanças na forma como a sociedade produz e usa energia – responsável por mais de 74% das emissões globais de GEE [3] – o percentual de combustíveis fósseis tem se mantido constante na matriz energética global desde os anos 90 [4]. Nesse sentido, há necessidade de se aumentar em 4x o volume de investimentos alocado em energias limpas, atingindo US$ 4tri em 2030 em um cenário alinhado à neutralidade de emissões em 2050, segundo a AIE [5]. Ao mesmo tempo, os investimentos em exploração e produção de O&G poderiam se manter estáveis até 2030, desde que haja redução efetiva na demanda por combustíveis fósseis, algo desafiador diante da dependência setores de difícil descarbonização: combustíveis fósseis ainda respondem por 95% e 65% da demanda energética no transporte e na indústria, respectivamente [6].
Diante do desafio da transição, cabe também a discussão sobre o quanto a sociedade está disposta a arcar com os custos e potenciais trade-offs de uma economia de baixo carbono. Quase metade dos entrevistados em recente pesquisa da Edelman estão em dúvida ou não estão dispostos a arcar com eventuais impactos no custo de viagens, no conforto pessoal e na segurança do trabalho em setores carbono intensivos [7].
Neste cenário, número crescente de investidores, inclusive via Climate Action 100+ e GFANZ, cobram o estabelecimento de metas alinhadas à ciência e estratégias de transição robustas por parte do setor de O&G.
Empresas são demandadas, portanto, a ter excelência na gestão de emissões, visando a redução de emissões operacionais (escopo 1 e 2), ao longo de suas cadeias de valor (escopo 3) e de metano. Ainda, podem adotar diferentes abordagens estratégicas, como a produção de barris resilientes em termos de custo e carbono, a inovação tecnológica para descarbonização (ex.: CCS), a diversificação para novas fontes energéticas e até mesmo o desinvestimento de seus negócios fósseis tradicionais. Por fim, não devem abrir mão de uma robusta governança climática que preze pela gestão de riscos climáticos integrada ao planejamento estratégico, por lideranças capacitadas em relação a clima e pela transparência em linha com as melhores práticas, como a TCFD.
Por fim, Clarissa destacou que o setor continuará tendo um papel essencial nos próximos anos na oferta de energia acessível e de menor emissão que possibilite o desenvolvimento socioeconômico. Todavia, as pressões não tendem a arrefecer e o setor deve buscar sua resiliência ao mesmo tempo em que deve engajar com seus clientes de modo a monitorar e influenciar mudanças na demanda rumo a uma economia de baixo carbono.
[1] UNDP – “People’s Climate Vote”, 2021
[2] Energy Transitions Commission – “Keeping 1.5°C Alive: Closing the Gap in the 2020s”, 2021; IEA – “World Energy Outlook 2021”, 2021
[3] IEA – “CO2 emissions from fuel combustion”, 2020
[4] IEA – “World Energy Outlook”, 2021
[5] IEA – “World Energy Outlook”, 2021
[6] IEA – “Net zero by 2050”, 2021
[7] Edelman Trust Barometer – “Special Report: Climate Change”, 2021
O que está por trás da diversificação de portfólio observada por algumas empresas do setor de óleo e gás (O&G)? De que forma empresas se posicionam e quais são os principais dilemas enfrentados? No âmbito do processo de planejamento estratégico da Petrobras para o período 2021-2025, a Catavento foi convidada a contribuir, por meio de uma apresentação para a liderança da companhia, com sua visão sobre as transformações no cenário da transição energética e os diferentes posicionamentos possíveis de empresas de O&G.
Entre as principais diretrizes que norteiam a diversificação estão as incertezas quanto à demanda futura por O&G, diante de maiores restrições climáticas e transição para uma economia de baixo carbono [1], além de a maior pressão de investidores. Em relação a este último ponto, destaca-se que o número de resoluções de acionistas relacionadas a clima para empresas de O&G aumentou 63% no período de 2015-2019, em comparação com os quatro anos anteriores [2]. Em tais resoluções, investidores demandam transparência sobre riscos climáticos, resiliência do portfólio ao cenário de 2°C e metas alinhadas ao Acordo de Paris. Ainda, é possível notar uma mudança na percepção de risco sobre o setor de O&G, observada por meio do aumento no custo de capital e das taxas de retorno requeridas para aprovação de projetos [3].
Neste contexto, empresas de O&G buscam se adaptar e responder às crescentes pressões de diferentes formas. A estratégia adotada varia de acordo com alguns fatores determinantes, tais como (i) região geográfica de atuação e tipo de interação com governos locais; (ii) grau de exposição a investidores e consumidores finais; (iii) percepção de riscos de transição ou de mercado e (iv) tipo de expertise desenvolvida e consolidada. Nesse sentido, a maioria das empresas busca reduzir suas emissões e promover eficiência nas operações, enquanto a efetiva diversificação de portfólio para novas formas de energia de forma mais contundente tende a ficar concentrada em players europeus. Há ainda empresas que buscam integrar novas renováveis às operações existentes, buscando tanto a redução de emissões como eventualmente redução de custos, como no caso das IOCs norte-americanas que estão entre os maiores compradores corporativos de energia renovável. Há, por fim, aquelas empresas que escolhem permanecer com foco em O&G, alavancando-se em competitividade de custos e eficiência em carbono. A decisão estratégica, ao fim, deve levar em conta o aumento esperado por demanda de energia, notadamente em países asiáticos, fator-chave para suportar o crescimento econômico e o desenvolvimento social esperados. Deve-se levar em conta, todavia, que o perfil dessa demanda energética está em constante evolução, com tendência atual de priorizar fontes de baixo carbono.
Assim, devem as empresas de O&G posicionar-se como empresas de energia, com ampla gama de fontes no portfólio, apropriando-se de negócios com maior CAGR esperado (renováveis)? Ou devem priorizar a janela de oportunidade existente no O&G, focando no negócio com expertise consolidada e aceitando taxas de crescimento decrescentes?
Tal escolha, não trivial, ainda enfrenta o desafio da definição do momento mais adequado para a diversificação. Caso migrem para novas energias “antes da hora”, empresas de O&G terão que lidar com a necessidade de desenvolvimento de novas habilidades e competências, além do relevante desafio de manutenção dos níveis de retorno aos acionistas [4]. Se demorarem a responder, por outro lado, podem sofrer para atrair e reter talentos, além de estarem sujeitos a riscos de aumento do custo de capital e pressão crescente de investidores ESG.
Por meio de sua apresentação, baseada em rigor analítico e capacidade de síntese, a Catavento buscou prover à liderança da Petrobras de insumos que enriqueçam as reflexões estratégicas da empresa em um momento desafiador e inspirador de mudanças no setor energético.
[1] IEA. The Oil and Gas Industry in Energy Transitions”, 2020
[2] CMS Law, Capital Economics. “Oil & Gas Energy Transition – Evolution or Revolution – the role of O&G companies”, 2020
[3] Oxford Institute for Energy Studies. “Energy Transition, Uncertainty, and the Implications of Change in the Risk Preferences of Fossil Fuels Investors”, 2019
[4] Wood Mackenzie. “How serious are oil and gas companies about the energy transition?”, 2019
A Petrobras é uma sociedade anônima de capital aberto que atua de forma integrada e especializada na indústria de óleo, gás natural e energia. A empresa está presente nos segmentos de exploração e produção, refino, comercialização, transporte, petroquímica, distribuição de derivados, gás natural, energia elétrica, gás-química e biocombustíveis.
Fonte: website Petrobras
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